segunda-feira, março 14, 2011

Indiferença

Carregada de ilusão, me olho ao espelho. Sim, parece estar tudo bem. É um lance superficial, nem sequer demorado. Passo a mão, levemente pelo cabelo. Retoco a maquilhagem, como quem quer esconder algo. Sim, tudo parece perfeito. Artificialmente perfeito, mas perfeito. O que é que isso importa?
Rapidamente pego nas chaves e saio de casa. Desço as escadas, saltando degraus como quem salta fases. É como quem apressa o fim, como quem avança, passa à frente do que parece indiferente...O que é mais um degrau?
Ergo a cabeça e cá vou eu, afinal de contas tudo está ok.
A cada passo que dou, vejo uma multidao que nada é. Anonimato! Vazio! Apenas caras! Não, não são mais que nada. Quanta verdade é visivel? Nada é visivel...E de que me interessa o que está para lá de rostos? Nada me interssa.
Continuo o meu caminho, olhando intensamente para o relógio que avança a passos galopantes. Tempo? Não, não tenho tempo! E será que o quero? Ou gostaria de avançar os ponteiros como mais me conviesse?
É no meio de todos aqueles rostos de ninguém que vejo. Vejo um nome, uma história, um desejo, e um fracasso. Nesse momento, o tempo parou; a maquilhagem borrou; a multidão desapareceu; os meus passos cederam. Sim, há imperfeição eclipsada pela falsa perfeição em que acredito mas que nada tem de real. Sim, eu quis chegar ao fim, mas degraus continuam por pisar. E não, não consigo sequer conformar-me...
Deixo-te passar. Deixo de pensar, sentindo, tão fortemente que pensei ate, já não existir tamanha sensação. Fico! Dói! Por fim, sigo em frente. Deixo-te para trás. Vais cada vez mais para trás e eu corro...Ficas longe, cada vez mais longe mas...eu olho para trás...
Volto ao meu vazio e esqueço...
Sim, tudo está perfeito...

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