terça-feira, janeiro 20, 2009

Pedro

Prendeste-me o olhar. Não mais esqueci esse azul penetrante. Não sei o que viste em mim nem o que pensaste nesse momento. O meu próprio pensamento ficou vazio por uns instantes. Depressa recompus-me e voltei a viver a minha solidão e tristeza. Não sei porque nunca esqueci aquele momento.
Aproximaste-te e tentaste o que tentavas vezes sem conta. O teu discurso estava tão ensaiado! Não conhecias recusa. Mas eu surpreendi-te pois não me rendi aos teus encantos. Viste que não valia a pena pois não cedia. O que não sabias é que continuava presa a um passado que já não fazia sentido.
O teu interesse por mim mudou. Desististe de fazer de mim a tua caça. Quiseste conhecer-me. Foi então que conheceste a minha história e não mais me largaste. Deixaste que eu visse quem eras, levantaste o véu que te cobre. E eu fiz o mesmo embora aos poucos.
Aprendi a chamar-te amigo e companheiro. Quiseste que vivesse novas experiências. Mostraste-me um mundo desconhecido. Contigo vi o sol nascer na tua varanda. Adormeci no teu colo com o cansaço de tanta loucura.
Somos tão diferentes. Não sei porque nos damos tão bem. Aspiramos coisas tão distintas. Pertences a outro mundo mas encontramo-nos tão bem.
O teu mundo é fascinante mas não sei que interesse te desperta o meu. Na verdade, olhas para mim com carinho e transmites protecção. Não deixas que desista de nada e fazes-me acreditar que tudo o que sonho está ao meu alcance. Simplesmente não me deixas sozinha.
A tua paixão por mim tornou-se evidente. Porém, nunca o admitiste. Essa paixão concretizava-se por gestos e não por palavras. Estava à vista de todos.
Para mais do que éramos nunca confiei em ti. Por vezes, sentia-me atraída por esse olhar. Apetecia-me aproximar. Mas acabei sempre virada para outro lado. E a nossa cumplicidade não se alterou... Até eu resolver esquecer o passado e fazer uma nova escolha. Estive prestes a escolher-te mas tal não se concretizou. Durante muito tempo não voltei a dormir nos teus braços. Nunca soube muito bem como ficou essa tua paixão. Mas vi-te seguir em frente tal como eu fiz.
A tua preocupação nunca se esgotou e continuaste a apostar nesta amizade, tal como eu.
O destino não deixou que as nossas escolhas tivessem futuro. E de novo nos refugiamos nos braços um do outro. Somos como pólos opostos que se atraem. Sinto-me bem quando me tocas e sorris. E esse teu olhar é sempre igual ao do primeiro momento.

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