terça-feira, janeiro 16, 2007

Capitulo II de "A amizade é real" - Da realidade à fantasia

As coisas mudaram um bocado com a chegada de um novo rapaz à rua. Luís, era o seu nome, parecia um miúdo muito estranho. Tudo à volta dele era um mistério. A imaginação das crianças chegou ao limite. Devido a estranhos comportamentos do seu irmão, como quando espreitava pela janela com ar assustador e lhes metia medo e com a ajuda das histórias sinistras que os mais velhos lhes contavam, as crianças afirmavam que Luís e sua família eram fantasmas, coisa que nunca se veio a confirmar.
Depois de vários acontecimentos estranhos e inexplicáveis na “Rua”, surge um que é levado mais a sério. Apesar de não mostrarem, até os mais velhos se sentiam receosos em relação ao que se passava. Como não haveriam de se sentir assim? Sempre que algo diferente acontecia, a ”Rua” tornava-se misteriosa e sombria. Surge então a “Lenda do Capa Vermelha” na “Rua” por parte dos adultos. As crianças contavam aos mais crescidos, que a mesma acontecia na “Rua”, mas estes acreditavam que era fruto da sua imaginação. Estariam certos? Será? Talvez…
“Segundo esta lenda, os antigos das Lages*, diziam que costumavam ver, nas manhãs de nevoeiro, um vulto vermelho enquanto trabalhavam nos seus campos. Isto suscitava muito medo nos que habitavam nas Lages, pois a seguir a esse fenómeno sucediam estranhos desaparecimentos de pessoas das redondezas, juntamente com um rasto de destruição. Dizia-se que era a marca do “Capa Vermelha” arrastando as suas vítimas. Ninguém estava impune.”
Com o tempo, as crianças começaram a ver marcas semelhantes às da lenda. Apareciam do nada pequenos rastos de destruição. Mas como saberiam se estes acontecimentos estavam relacionados com a famosa lenda? Nunca viveram tal situação. Só conheciam a lenda contada de boca em boca e como se sabe: “quem conta um conto, acrescenta um ponto”. Mas o que é certo é que algo fora do normal se passava. Apareciam objectos que levavam a crer que os conduziam ao “Capa Vermelha”.
Num desses dias, apareceu por toda a “Rua”, um rasto de pétalas de rosa vermelhas juntamente com uma mensagem:

Querem saber onde estou?
Ponham-se a pensar.
Sigam a lógica
Perto de mim vão chegar.

Esta mensagem não dizia nada aos miúdos.
Nessa noite, Cris percebeu do que se tratava. Só podia ser o jogo da lógica*. Juntaram-se todos à volta de Cris a escutar o inteligente raciocínio que partia da única pista existente:
Cris: - Pétala? Pétala – Rosa! Rosa? Rosa – Roseira! Roseira? Roseira – Planta! Planta – Arvore! Árvore – Madeira! Madeira? PAPEL!!! ELE ESTÀ NA FÁBRICA DE PAPEL!!!
-Pensem um bocado…Onde fica a fábrica de papel? Nas Lages. O que é que acontece nas Lages? Vocês sabem.
Na “Rua” criou-se um silêncio frio e assustador. Era mesmo verdade que existia uma fábrica de papel nas Lages. Estaria lá o que eles procuravam?
Depois deste acontecimento, as crianças começaram a sentir fascínio por temas que metessem medo. Começaram a reunirem-se à noite para contarem as suas histórias mais assustadoras. Ao princípio era tudo imaginação, até que a Carla quebrou a fantasia e contou uma história real – “O cavalo que corre o fado”.
“Dizia-se que quando uma mulher tinha cinco filhos homens ou cinco filhas mulheres o quinto teria de se chamar Adão ou Eva respectivamente. Caso contrário o seu filho ou a sua filha corriam o fado.”
Carla: - Um dia, uma mulher pediu ajuda ao meu bisavô. Este era conhecido como um homem corajoso que não tinha medo de nada. A mulher dizia que durante a noite, quando ia ao quarto da sua filha e a via dormir, sentia que alguma coisa estava errada. A filha não acordava até de manhã. A mãe sentia que o espírito da pequena não estava no seu corpo. O meu bisavô perguntou-lhe quantos filhos tinha e o nome da filha em questão. A mulher respondeu que tinha cinco filhas e que a pequena se chamava Amélia. O meu bisavô percebeu logo – a lenda do “cavalo que corre o fado”. Quando soavam as doze badaladas da meia-noite, o espírito de Amélia transformava-se num cavalo branco que corria pela vila…ou seja corria o fado!
A meio da história, Daniela reparou que havia uma luz que tirava todo aquele clima. Disse bem alto que a mesma se podia apagar. Passado alguns minutos isso aconteceu inexplicavelmente. O terror espalhou-se pelas caras das crianças, mas Carla continuou a história…
Carla: - O meu avô decidiu ajudar a mulher. Este criou uma cerca de madeira por onde o cavalo passava, com o objectivo de o parar para lhe atirar com uma seta. Se o meu avô não lhe acertasse no sítio certo a pequena morria mas felizmente isso não sucedeu e o espírito dela ficou livre para sempre.
Passado alguns dias, Daniela, ouviu à meia-noite, o galopar de um cavalo. Não foi a única. O que seria?

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